Beber para comemorar, beber para se soltar, beber para matar a sede. Durante décadas, o ato de beber esteve enraizado na cultura brasileira, quase como um ritual social. Da mesa do bar ao churrasco de domingo, o álcool parecia indispensável para celebrar ou relaxar. Mas os tempos estão mudando. A nova geração, mais conectada e informada, vem reformulando a relação com o consumo de bebidas alcoólicas — e isso está transformando hábitos, indústrias e até o modo como nos relacionamos.
Mas o que levou essa mudança de comportamento? Será que estamos diante de um novo padrão social ou apenas de uma tendência passageira? A verdade é que, pela primeira vez, os jovens brasileiros estão questionando algo que, por muito tempo, foi considerado natural: a necessidade de beber para se divertir ou pertencer a um grupo.
Um estudo da MindMiners revelou que 55% da geração Z não consome bebidas fermentadas ou destiladas, seja por não gostar do sabor, seja pelos efeitos nocivos do álcool. E mesmo entre os que bebem, 33% afirmam ter reduzido a ingestão. Esse dado ecoa o que a Organização Mundial da Saúde (OMS) já vem alertando há anos: o consumo de álcool é responsável por cerca de 3 milhões de mortes anuais no mundo, além de estar associado a mais de 200 doenças e lesões.
O movimento de redução ou abstinência do álcool — conhecido como “mindful drinking” — está crescendo globalmente. Jovens priorizam experiências autênticas, autocuidado e saúde mental, valores que colidem com a cultura da bebedeira. As redes sociais, antes vitrines de copos e baladas, hoje exibem taças de kombucha e mocktails (coquetéis sem álcool). Não beber deixou de ser “careta” e passou a ser um ato de consciência.
Outro fator importante é a busca por equilíbrio. Em uma era de sobrecarga de informações e estresse constante, a clareza mental e o bem-estar tornaram-se objetivos de vida. Essa geração quer aproveitar a vida, mas sem ressaca física ou emocional. Empresas do setor já perceberam o movimento: o mercado de bebidas sem álcool cresce em ritmo acelerado e as grandes marcas se reinventam para atender a esse novo público.
O álcool e o ambiente de trabalho
Mas essa mudança de mentalidade vai além das festas e bares. E dentro das empresas, como esse novo comportamento se manifesta?
Será que as organizações estão preparadas para lidar com uma geração que valoriza saúde, limites e propósito — inclusive quando o assunto é o “happy hour corporativo”? Em um cenário onde o bem-estar se torna prioridade, repensar o incentivo ao consumo de álcool nos ambientes profissionais é essencial.
De acordo com dados do Ministério da Saúde (Vigitel 2023), cerca de 18,3% dos brasileiros relatam consumo abusivo de bebidas alcoólicas. Esse índice, embora estável nos últimos anos, ainda representa um desafio enorme, especialmente quando se considera o impacto do álcool na produtividade, nos relacionamentos interpessoais e na segurança no trabalho.
Empresas que ignoram o tema correm o risco de perpetuar ambientes que estimulam comportamentos pouco saudáveis. Em contrapartida, aquelas que abraçam a mudança — promovendo discussões abertas, programas de bem-estar e eventos sem álcool — se tornam mais atrativas para talentos da nova geração. A cultura organizacional moderna valoriza equilíbrio, e o papel das lideranças é criar espaços de convivência que respeitem essas novas escolhas.
Repensar o álcool no contexto social e corporativo não significa demonizá-lo, mas sim entender que o verdadeiro “brinde” está na liberdade de escolha e na busca por uma vida mais leve e consciente. É sobre criar relações — pessoais e profissionais — baseadas em presença genuína, e não em substâncias que anestesiam o sentir.
Trazer essa discussão para dentro da sua empresa é fundamental. Nossos workshops e palestras abordam temas como saúde mental, hábitos saudáveis e gestão de bem-estar no trabalho — com foco em criar ambientes mais conscientes, equilibrados e produtivos. Afinal, o futuro dos negócios também depende da forma como escolhemos cuidar de quem faz parte deles.
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Bianca Vilela
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BIANCA VILELA é autora do livro Respire, palestrante, mestre em fisiologia do exercício pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e produtora de conteúdo. Desenvolve programas de saúde em grandes empresas por todo o país há quase 20 anos. No Canal Saúde, Bianca fala sobre saúde no trabalho, produtividade e mudança de hábitos. Não deixe de visitar o Instagram: @biancavilelaoficial








