Sinais que o brasileiro ignora
Um brinde entre amigos, uma taça para relaxar no fim do dia, um drink no happy hour. O álcool está presente em muitos momentos sociais e é, para muitos, parte da rotina. Mas o que parece inofensivo em doses moderadas pode estar afetando, de maneira silenciosa, nossa saúde mental e cognitiva.
Você já parou para pensar no que acontece no seu cérebro enquanto consome bebidas alcoólicas, mesmo que ocasionalmente? Será que aquela taça de vinho aqui e ali realmente não faz diferença? E se, na verdade, estivéssemos abrindo mão de parte da nossa capacidade cognitiva sem perceber?
Uma pesquisa publicada em fevereiro de 2025 no periódico Alcohol: Clinical & Experimental Research trouxe um alerta importante. O estudo, conduzido por cientistas da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, foi o primeiro a usar inteligência artificial para identificar alterações no desempenho cognitivo associadas ao consumo leve ou moderado de álcool.
Ao avaliar 58 adultos entre 22 e 40 anos, os pesquisadores notaram que quanto maior a pontuação no uso do álcool, maior era o número de erros em testes de flexibilidade comportamental — uma habilidade essencial para nos adaptarmos a novas situações. Flexibilidade comportamental é um pilar importante para a nossa autonomia mental. Ela permite que a gente lide melhor com mudanças, novos contextos e desafios inesperados. A perda dessa habilidade, mesmo que sutil, pode afetar a produtividade, a tomada de decisões e a nossa resiliência no cotidiano. O mais alarmante é que essas alterações foram percebidas em indivíduos considerados “sociais”, não dependentes.
Outro ponto de atenção é a forma como o álcool influencia diretamente as funções executivas do cérebro, como planejamento, controle inibitório e memória de trabalho. Esses são recursos que usamos intensamente no trabalho, nos estudos e nas relações interpessoais. Quando comprometidos, podemos nos sentir mais dispersos, reativos e menos eficazes — tudo isso sem necessariamente perceber que o álcool está por trás.

O álcool e a cultura do consumo no Brasil
Mas será que esse é um problema distante da nossa realidade? O que dizem os dados sobre o Brasil?
De acordo com o Relatório Global sobre Álcool e Saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgado em 2023, o brasileiro consome, em média, 7,8 litros de álcool puro por ano, número acima da média mundial. Além disso, cerca de 18% da população adulta relatou episódios de consumo excessivo em um único evento nos últimos 30 dias.
Isso revela não só uma cultura de consumo enraizada, mas também um padrão de comportamento que pode estar impactando a saúde mental coletiva de forma significativa. Se, mesmo em doses consideradas moderadas, o álcool já mostra efeitos negativos, o cenário se torna ainda mais preocupante diante do consumo abusivo.
É fundamental repensar o papel do álcool na nossa rotina. Abrir espaço para conversas sobre esse tema, sem tabus, é uma forma de cuidar de nós mesmos e de quem está ao nosso redor. O desafio é promover conscientização sem julgamentos, trazendo informação de qualidade para apoiar decisões mais saudáveis e equilibradas. Cuidar do cérebro é cuidar da vida como um todo.
Leve esse tema para sua empresa!
Discutir saúde mental no ambiente de trabalho nunca foi tão urgente — e o álcool, frequentemente esquecido nesses debates, precisa ser incluído. Levar esse conhecimento para dentro da sua empresa, por meio de workshops, palestras ou programas educativos, é um passo importante para ambientes mais saudáveis e produtivos. Entre em contato conosco e saiba como transformar essa conversa em ação.

Bianca Vilela
bianca@biancavilela.com.br
BIANCA VILELA é autora do livro Respire, palestrante, mestre em fisiologia do exercício pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e produtora de conteúdo. Desenvolve programas de saúde em grandes empresas por todo o país há quase 20 anos. No Canal Saúde, Bianca fala sobre saúde no trabalho, produtividade e mudança de hábitos. Não deixe de visitar o Instagram: @biancavilelaoficial